Médico diz que pacientes foram pagos para cirurgias desnecessárias

Outros depoimentos reafirmaram o pagamento de comissões para hospitais

Na sessão desta terça-feira (09) da Comissão Interparlamentar de Inquérito (CPI) da Máfia das Próteses, presidida pelo deputado Geraldo Resende (PMDB/MS), os médicos Alberto Kaemmerer e Alceu Alves, respectivamente ex-diretor e atual diretor do Hospital Mãe de Deus, no Rio Grande do Sul, explicaram como combateram a realização de cirurgias desnecessárias no hospital.

Kaemmerer contou que criou uma comissão para definir a necessidade das cirurgias de urgências. Com isso, o número de cirurgias realizadas na unidade caiu em 35%. Segundo ele, isso fez com que alguns profissionais se revoltassem contra ele, chegando a processá-lo. “Essa investigação está começando com um atraso de 13 anos. Em 2003 fomos chamados pela Unimed e fizemos a denúncia, mas o diretor (Paulo Oppermann) me ameaçou dizendo que o que eu dizia era contra critérios do comitê de ética, mas nunca fui chamado por esse comitê,” afirmou.

O ex-diretor contou ainda que o médico Fernando Sanchis, citado na reportagem do Fantástico e que se recusou a responder perguntas feitas em seu depoimento a CPI, trabalhava no Hospital Mãe de Deus e possuía 43 pedidos de cirurgias em um único mês, sendo que uma delas custava mais de R$ 700 mil. “Esse homem é o líder do escândalo no Rio Grande do Sul e me processou porque eu não permitia que ele operasse no hospital”, garantiu.

O depoimento de Kaemmerer trouxe outras revelações polêmicas como a de uma investigação acontecendo no Rio Grande do Sul para apurar a possibilidade de pacientes aceitarem se submeter a cirurgias sem necessidade em troca de dinheiro. “Há uma nova ramificação desse esquema de corrupção em que o próprio paciente faz parte da máfia”, declarou.

Já Alceu Alves falou sobre a cobrança de porcentagens em cima de notas fiscais das compras de órteses, próteses e materiais especiais. Sendo assim, o Hospital Mãe de Deus determinou que não pagaria por esses materiais, sendo que somente as operadoras de plano de saúde deveriam comprá-los. “Isso resolveu uma série de problemas”, disse.

A CPI ouviu ainda Cláudia Scarpin, diretora da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Implantes (Abraidi), que conta com 250 associados entre fabricantes, importadoras e distribuidoras de órteses, próteses e materiais especiais. Esse número equivale a 65% do mercado brasileiro de OPME. Cláudia afirmou nunca ter recebido denúncias de seus associados sobre a máfia, mas reconhece o pagamento de comissões. “Existe a prática de comissões, mas não acontece em todos os hospitais. Isso é de conhecimento de público”, ponderou.

Claudia ressaltou ainda que a Abraidi decidiu fazer um Acordo Setorial de Ética Saúde, a ser lançado nesta quarta-feira (10), com o objetivo de oferecer uma comercialização de produtos médicos mais honesta e transparente. Aqueles que se propuseram a fazer parte deverão implantar um programa de integridade dentro das suas empresas para cumprir com o acordo.



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