Pra que ser deputado?

Dezessete de janeiro de 1967. Um caminhão “pau-de-arara” desponta na poeirenta Marcelino Pires. Nele, uma família inteira, vinda de Minas Gerais: eu, um garoto de apenas onze anos, minha mãe, e meus onze irmãos. Meu pai tinha chegado antes, para preparar nossa vinda, e naquele dia nos aguardava. A ansiedade era muito grande: pelas conversas de meus pais, aqui era o Eldorado e em nossos sonhos juvenis o que mais imperava era a ansiedade do contato com o desconhecido.

Primeiro de fevereiro de 2011. Quarenta e quatro anos depois, assumo meu terceiro mandato na Câmara dos Deputados. A vida não poderia ter sido mais generosa comigo e esta foi mais uma conquista que credito a Deus em primeiro lugar, e aos meus amigos. Ali, no Distrito Federal, estava de volta novamente, relembrando os dias em que, ainda jovem, lá fui trabalhar como gráfico e fazer o cursinho pré-vestibular para que pudesse concretizar o sonho de cursar Medicina.

Nos momentos que antecediam o ato da posse para o terceiro mandato consecutivo como deputado federal, passaram pela minha cabeça os dias em que ali vivi, estudei e trabalhei; mas também vieram, claras como relâmpagos, as reminiscências da infância e adolescência em Dourados, quando já contava para meus amigos da época, o sonho de ser médico. No mais das vezes, eles riam, pois achavam quase impossível um garoto pobre, filho de lavadeira e de um jardineiro, conseguir estudar e se formar nesta profissão.

Mas como disse, a vida foi generosa comigo. Depois do cursinho, prestei vestibular na Universidade Federal do Ceará. Passei, e para lá me mudei para o tão sonhado curso. Ali, vivenciei e participei de momentos importantes da vida nacional, como por exemplo, a luta pela redemocratização do país, entre eles, pela Constituinte, Diretas-Já e pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita.

Depois de formado, fui fazer especialização em Ginecologia e Obstetrícia na USP, considerada uma das melhores universidades do país e após, como não poderia deixar de ser, retornei a Dourados e fui clinicar em diversos postos de saúde da periferia e dos distritos.

Muitos dos colegas da meninice, infelizmente, não tiveram a mesma ascensão que eu tive. Porém, não deixaram de ser homens dignos e honrados e trabalhadores, sendo que a maioria tem como prêmios, a boa formação e encaminhamento dos filhos e netos para uma vida com um padrão de vida de boa qualidade. Estes, sempre que me encontram, lembram-se dos momentos que vivemos juntos e muitos dizem me apontar como referência para seus filhos e netos.

Porém, como nem tudo na vida são flores, um desses que compartilhou comigo uma infância e adolescência de sonhos e lutas, enveredou por um outro caminho: o da maledicência, dos achaques e da falta de compromisso com a verdade. Para este, toda a minha luta pela ética, pela moralidade, pelo bem coletivo, nada valeu.

Ao conversar com amigos e correligionários, muitos me perguntam por que deixei de exercer uma profissão tão bela como a Medicina, onde poderia continuar atendendo os mais humildes (como fiz no começo da minha vida profissional). E eu respondo: é porque entendo que na política posso trabalhar pelo coletivo, com o objetivo de melhorar a vida das pessoas.

E isso se dá em cada cidade deste nosso Estado, onde sempre há uma ação de minha lavra na saúde, como construção de um posto de saúde ou a reforma ou ampliação de um hospital; na infraestrutura, como uma frente de asfalto, rede de esgoto ou drenagem; na educação, como a reforma de uma escola ou construção de uma quadra; e em Dourados, uma obra marcante: a UFGD, além de dezenas de frentes de asfalto e de unidades de saúde, para ficar em alguns exemplos.

Portanto, é pela minha gente que sou deputado federal. Às maldades e maledicências respondo com mais trabalho e com minha consciência tranquila, deixando por conta da justiça (dos homens e a divina), a verdade dos fatos. A generosidade do povo de meu Estado, e acima de tudo, o estímulo de velhos amigos nunca têm me faltado e são a mola propulsora da minha vida.

Médico e deputado federal (PMDB-MS)



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