O Brasil diante do tarifaço: responsabilidade, estratégia e defesa do interesse nacional
Por Geraldo Resende
A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos representa um desafio relevante para o Brasil e exige uma resposta institucional, diplomática e técnica à altura dos interesses nacionais. Trata-se de uma decisão com efeitos diretos sobre a nossa economia, a geração de empregos, o setor produtivo e, especialmente, sobre o sistema público de saúde.
Como parlamentar sul-mato-grossense e médico de formação, recebo essa notícia com atenção redobrada. Mato Grosso do Sul exportou, só em 2024, mais de 660 milhões de dólares aos EUA, sendo a carne bovina o principal produto da pauta. Com a nova tarifa, frigoríficos importantes do estado já suspenderam embarques, o que afeta não só as empresas, mas os milhares de trabalhadores que dependem da atividade.
Além da carne, outras cadeias estão sob alerta: a piscicultura, por exemplo, que tem nos Estados Unidos seu principal destino, já sente os efeitos da nova política comercial. Apesar da exclusão de produtos como celulose e ferro-gusa da tarifa, o impacto sobre a economia sul-mato-grossense é concreto.
Na saúde, o impacto é silencioso, mas grave. Grande parte dos insumos médicos utilizados no Sistema Único de Saúde (SUS) e em hospitais filantrópicos vem dos EUA. Monitores cardíacos, desfibriladores, sistemas de imagem e até insumos simples como seringas e luvas podem ter aumento de até 30% no custo. Isso significa pressão sobre o orçamento do SUS, dificuldade de reposição e risco real de sobrecarga em serviços públicos, especialmente se o setor privado também for afetado e houver migração de pacientes para o sistema público.
Diante desse cenário, é papel do Parlamento se posicionar com equilíbrio e responsabilidade. Não se trata de buscar culpados, mas de agir para proteger os setores produtivos do nosso país, defender os empregos e garantir a manutenção dos serviços essenciais, em especial a saúde pública.
Confio na diplomacia brasileira, que sempre atuou com serenidade e competência, para buscar soluções equilibradas junto ao governo norte-americano. Ao mesmo tempo, defendo que o Brasil avance na diversificação de seus mercados, explorando com mais vigor as oportunidades de exportação com países da Ásia, Europa, América Latina e África.
Também é necessário propor medidas de apoio às empresas afetadas, criar linhas emergenciais de financiamento, estimular acordos bilaterais com novos parceiros comerciais e proteger, com firmeza, o setor produtivo.
Como membro do Congresso Nacional, já iniciei diálogo com a bancada federal e entidades representativas da indústria e do agronegócio, para avaliarmos os impactos e construirmos respostas concretas. Estamos atentos, inclusive, aos efeitos indiretos no SUS, que não pode ser penalizado por uma crise comercial internacional.
O Brasil precisa se posicionar com firmeza, mas com equilíbrio. Com respeito entre as nações, com confiança na diplomacia e, principalmente, com responsabilidade diante da nossa população.
Esse é o nosso papel como representantes do povo: ouvir, agir e proteger os interesses de quem trabalha, produz e serve ao país todos os dias.