Crack: União pode garantir centro de tratamento
Deputado pede união do poder público, entidades e igrejas para viabilizar centro de tratamento de dependentes. Dourados é uma das 48 cidades do Brasil que terão Plano Integrado
O deputado federal Geraldo Resende (PMDB-MS) defendeu, durante a Conferência de Abertura do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, promovido pela UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), a conjugação de forças, com a participação de órgãos do poder público, entidades, organizações não-governamentais (Ongs) e igrejas para conduzir os programas antidrogas.
Geraldo participou do evento e anunciou sua contribuição nessa cruzada, garantindo que vai destinar à construção do centro pelo menos 30% da cota de emendas a que tem direito apresentar na Câmara. Os recursos devem ser consignados no Orçamento Geral da União em 2012.
O deputado lembra que o relatório produzido pela Comissão Externa da Câmara constatou o aumento do consumo de crack no país, mas também apontou para as dificuldades do Estado em oferecer tratamento aos dependentes, daí sua proposta de mobilização de todas as forças.
A Conferência de Abertura do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas foi realizada sexta-feira (7) na Câmara Municipal de Dourados, com a presença do reitor da UEMS, Gilberto Arruda, das coordenadoras do projeto, professoras Jussara Martins Cerveira, Loreci Nolasco e Cássia Barbosa Reis, além de autoridades convidadas – secretária estadual de Assistência Social, Tânia Garib; deputado federal Geraldo Resende, deputado estadual Laerte Tetila (PT) e delegado de Polícia Federal Bráulio Galloni, que fez a palestra inaugural, mostrando o volume de apreensões e principais pontos de entrada de drogas no País.
A ideia de um Centro de Recuperação de Dependentes Químicos já foi abordada no ano passado e agora se reforça com o projeto da UEMS, segundo Geraldo Resende, para quem, no entanto, não bastam palavras, mas ações conjugadas. “Essa é uma luta que deve ser conduzida por toda a sociedade civil, poder público e ONGs”.
Geraldo Resende é membro da Comissão Externa do Congresso Nacional que discute a adoção de políticas antidrogas no Brasil, a partir de experiências bem sucedidas em várias partes do país e do exterior. “Estamos preocupados com a gravidade de um problema que se dissemina nas grandes e pequenas cidades e, particulamente, nas aldeias de Dourados”, lembrou, mencionando que a reserva indígena, antes do problema das drogas, passou por situações dramáticas, como o quadro de desnutrição severa que matou crianças e os casos de suicídios. Foi necessário também acionar a comissão externa e exigir uma ação conjugada.
Centro de Referência
Com o projeto lançado em fevereiro em nível nacional pela presidente Dilma Roussef, a UEMS oferecerá cursos de aperfeiçoamento e atualização a todos os profissionais que trabalham na rede pública de saúde atendendo diretamente os usuários, além de amparo a seus familiares.
Dourados é um dos 48 pontos de capacitação para implantação de centros de referência lançados em todo país, lembrou o reitor da UEMS. A professora Loreci Nolasco também defende a idéia das parcerias, notando que o problema das drogas exige respostas integradas, de atenção ao dependente e também para minorar o sofrimento das famílias. No Brasil, o Plano de Enfrentamento prevê a formação de 65 mil pessoas na rede de saúde e assistência social e abertura de 6.120 leitos, além de CAPS (Centro de Assistência Psicossocial).
A secretária de Assistência Social, Tânia Mara Garib, fez dura cobrança para que a classe política produza legislação que amplie a rede de atendimento aos dependentes químicos, credenciando também a assistência social. Hoje Mato Grosso do Sul tem apenas 58 grupos de apoio à prevenção e 14 unidades de saúde, destacando as iniciativas de entidades civis, “mesmo que de caráter religioso”.
Geraldo lembrou que há três anos luta pela implantação de um CAPS para atender usuários de drogas e álcool na reserva indígena de Dourados e cobrou mais participação de outros segmentos da sociedade civil, igrejas e órgãos públicos. Durante a Conferência de Abertura, Geraldo comentou e entregou cópia do relatório da Comissão Externa destinada a analisar in loco os efeitos das políticas sobre drogas instituídas em Portugal, Holanda, Itália e Brasil.
No Brasil, segundo Geraldo, são 2 milhões de usuários. O deputado lembrou que nesse enfrentamento tem se destacado apenas o trabalho das Ongs, preenchendo uma lacuna deixada pelo Estado. “Não adianta só falar, temos que agir”, adverte.
Para o delegado federal Bráulio Galloni, é essencial combater a dependência com tratamento interdisciplinar, mas lembrou que o País é muito vulnerável à entrada de drogas por causa da imensa fronteira com países produtores. A seu ver, “o que resolve em segurança é mais investimentos”, e a sociedade, além da preocupação municipalista, deve ter mais visão federativa e mundial.
"São 1.399 km de fronteira capilarizada", disse, comparando o trabalho da polícia como diversas 'mãozinhas' tentando tapar vazamentos de uma enorme torneira. "A solução é fechar essa torneira à entrada de drogas", que são produzidas pelo Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela e Paraguai, com apoio do Uruguai na lavagem de dinheiro. No ranking nacional de apreensões de maconha, de 154 toneladas de maconha em 2010, Ponta Porã é 2º, Naviraí é o 4º e Dourados o 5º colocado. Mas a maior preocupação da polícia é com a entrada de cocaína, pasta base de cocaína e o crack por essas torneiras.