Crack expande seu terrível poder destrutivo
Se o conselho vale para qualquer droga, no caso do crack ganha um caráter imperativo: jamais experimente. Fumar uma só vez é suficiente para aprisionar o usuário, abrindo um ciclo destrutivo do qual poucos conseguem sair.
Nós somos impotentes em relação ao crack. Nós não dominamos o crack. No que a gente começa a usar, o poder está com a droga – adverte a pesquisadora Solange Nappo, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo.
O crack é barato e causa dependência muito rapidamente (veja infográfico), marginalizando o usuário em semanas ou até dias, e assim deixando pouco tempo para uma reação por parte da família. E quanto mais tempo o tratamento demorar a começar, menores as chances de recuperação. Solange afirma que ele deve ser iniciado de preferência ainda no primeiro mês.
O presidente do Instituto Potiguar de Prevenção e Combate às Drogas, Murilo Vieira, 38 anos, experimentou as consequências avassaladoras do consumo de crack. Ele conta que em 1998, usuário de maconha, foi induzido por um traficante a fumar um cigarro “mesclado”, composto parcialmente por crack.
Eu achei que teria uma vida social normal, mas me viciei imediatamente. O cara que fumou crack não tem essa história de administrar o vício. Ele usa direto. Tudo o que faz é voltado para o crack – afirma.
Em apenas um mês de uso, Murilo perdeu todo o dinheiro. Sua loja de bicicletas foi à falência, e ele chegou a entregar, em troca da droga, os talonários de notas fiscais para os traficantes utilizarem como instrumento de lavagem de dinheiro. Percebendo que corria para a ruína, procurou ajuda. Um pastor evangélico o abrigou em sua casa, não permitindo que saísse durante um mês. Para Murilo, foi a salvação.
Motivado pelo propósito de ajudar outras pessoas a vencerem o vício, há seis anos ele fundou a comunidade terapêutica Nova Aliança, em Pium, nos arredores de Natal (RN), para atender principalmente usuários de crack. Atualmente a comunidade tem 82 pacientes, quase todos dependentes dessa droga. O índice de recuperação, de acordo com Murilo, está entre 20% e 30%. Para que o tratamento obtenha êxito, os fatores preponderantes, segundo ele, são em primeiro lugar motivação pessoal e, em seguida, apoio da família.
Nem pense em entrar no crack, mas, se entrar, procure uma saída o mais rápido possível, senão a situação fica cada vez mais grave – aconselha.
Fonte: Jornal do Senado