Investigação em Montes Claros: Máfia das Próteses desviou R$ 5 milhões do SUS

19/06/2015 16h51

Médicos investigados não compareceram a oitiva e serão ouvidos em Brasília

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Máfia das Próteses realizou, nesta quinta-feira (19), uma audiência em Montes Claros (MG), onde a operação Desiderato da Polícia Federal prendeu, no dia 2 de junho, oito pessoas suspeitas de envolvimento com o esquema. A ida da comitiva a cidade visava esclarecer as denúncias de que materiais pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) eram usados na rede privada por meio de laudos falsos. Estima-se que R$ 5 milhões foram desviados no município.

Vágner Vinícius Ferreira, Zandonai e Gerson Miranda, médicos denunciados, não compareceram à audiência. No entanto, o presidente da CPI, deputado Geraldo Resende (PMDB/MS), aprovou a convocação deles para depoimento em Brasília no dia 25 de junho.

O procurador da República, André Vasconcelos Dias, deu detalhes da operação Desiderato. Os três médicos investigados na operação teriam causado um prejuízo de R$ 5 milhões aos cofres públicos. Em um primeiro momento, a propina era paga em dinheiro vivo, mas depois os médicos criavam pessoas jurídicas para justificar o pagamento bancário como se tratassem de consultorias. “Há um grande esquema que não está restrito à nossa região, de caráter nacional, de cooptação de médicos mediante pagamento de vantagens indevidas para a utilização de determinada marca e, além disto, para o uso excessivo de certa quantidade de produtos desta marca”, disse.

O delegado da Polícia Federal, Marcelo Eduardo Freitas, que comandou a operação, contou que os médicos informavam uma quantidade superior de material usado nas cirurgias e, assim, criavam um estoque paralelo pago pelo SUS e repassado para a rede particular. O esquema teria causado até a morte de pacientes. “Ocorreram óbitos de pessoas que simplesmente acreditaram ter feito o procedimento, mas na realidade não tiveram a oportunidade de saber se o procedimento foi realizado”, reatou.

O prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz (PRB), acredita que ao menos 20% dos pagamentos feitos pelo SUS aos hospitais para procedimentos de alta complexidade são fraudulentos. Muniz fez ainda graves acusações contra a Santa Casa, que cobraria de pacientes por materiais fornecidos pela rede pública. Para ele, os hospitais são coniventes. “Não tem jeito de o gestor (do hospital) não ficar sabendo que tem coisa errada”, disse.

Santa Casa nega acusações, mas paciente confirma

O superintendente da Santa Casa, Maurício Sérgio Souza, disse que as acusações do prefeito eram falsas. Ele afirmou ter aberto sindicância contra o médico Zandonai Miranda, preso na operação da PF, para apurar a cobrança de R$ 40 mil de um paciente. Zandonai chegou a ser afastado por 180 dias, mas seus colegas de trabalho pediram que ele retornasse, pois estaria passando por dificuldades financeiras.

Maurício negou todas as acusações. No entanto, a paciente Maria Elci confirmou a cobrança dupla em cima dos materiais. Zandonai teria cobrado R$ 40 mil pela instalação de três stents farmacológicos em seu marido. “Eu paguei R$ 30 mil em espécie para a secretária dos médicos e fiquei devendo R$ 10 mil. Eles me ligavam sempre, mas pararam no fim de 2014,” revelou.

As suspeitas também recaem sobre o Hospital Dilson Godinho. A funcionária Valquíria Souza Lima confirmou a existência de um “depósito paralelo”. Ela explicou que os médicos emitiam um relatório correto para a família do paciente e um adulterado para o SUS. “Os médicos alegavam que o SUS pagava apenas uma prótese por cirurgia, mas há casos em que é necessário mais para cobrir a lesão. Os stents ficavam separados e nós identificávamos como nosso,” contou.

O diretor do hospital, Dilson Quadros Godinho, se esquivou de grande parte das perguntas e negou ser parte do esquema. No entanto, reconheceu que não tomou providências diante das denúncias contra os médicos.


CPI da Máfia das Próteses realiza audiência em Montes Claros (MG)
Delegado da Polícia Federal, Marcelo Eduardo Freitas

Anterior
Anterior

Seminário cria fórum permanente para discutir mobilidade urbana em Dourados

Próximo
Próximo

ACED convida para Seminário de Mobilidade Urbana