Irmão de médico faz denúncias à CPI da máfia das próteses
16/06/2015 20h33
Irmão de Fernando Sanchis reafirmou suspeita de envolvimento do médico no esquema de corrupção
A reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Máfia das Próteses, presidida pelo deputado Geraldo Resende (PMDB/MS), ouviu Alfredo Sanchis Gritsch, médico irmão de Fernando Sanchis, um dos principais denunciados na reportagem do Fantástico que trouxe à tona o esquema de corrupção.
Alfredo afirmou não ter proximidade com Fernando desde 2009, quando romperam uma sociedade por “incompatibilidade de temperamentos”. Em 2014, ele chegou a suspeitar que havia algo errado no trabalho do irmão quando uma normativa no hospital em que atuava proibia cirurgias que utilizassem próteses e órteses. “Perguntei ‘o que está acontecendo?’ e ele disse ‘não é problema seu, cuida da sua vida’,” contou.
No entanto, ele não tinha conhecimento concreto sobre o envolvimento do irmão com a máfia das próteses até assistir a reportagem que o denunciava. Mais uma vez questionou o irmão, que jurou inocência. “Para mim e para todos próximos ao meu irmão, o número de cirurgias que ele realizava era suspeito,” constatou.
Entre os comportamentos de Fernando considerados “suspeitos”, ele citou ainda a relação com Henrique Cruz, residente qual Fernando teria falsificado assinaturas para prescrever cirurgias irregulares. “Eu sentia que o Henrique era blindado pelo meu irmão, do tipo que não podia falar com outros médicos. Eu sentia que o Henrique tinha medo do meu irmão,” afirmou.
Alfredo negou todas as suspeitas que recaem sobre si, entre as quais irregularidades em uma cirurgia por liminar feita com a advogada campeã de liminares no Rio Grande Sul, Niele de Campos. “Eu fiz o laudo solicitando a cirurgia e tive o azar de cair nas mãos da Niele. Eu só comecei a desconfiar de que havia problemas com liminares depois que precisei pedir uma,” garantiu.
Outro importante depoimento foi do ex-assessor técnico da direção regional dos Correios do Rio de Janeiro, João Mauricio Gomes da Silva. Contemplado com a delação premiada, ele revelou que recebia cerca de R$ 15 mil para pagar adiantado numerários para hospitais. “Esse dinheiro era paga igualmente para mim, o gerente de saúde dos Correios (Marcos da Silva Esteves) e o funcionário da Companhia de Água e Esgotos do Rio de Janeiro (identificado apenas como Daniel)”, confessou.
O esquema foi descoberto em 2013, após a realização de uma cirurgia de R$ 1 milhão em uma dependente de um funcionário dos Correios. Se não fosse superfaturada, não teria custado mais do que R$ 200 mil. Além disso, a esposa de João foi usada por eles como paciente fantasma em uma cirurgia que foi paga e nunca realizada. “Mas não tenho conhecimento de pacientes fantasmas além da minha esposa,” afirmou.
O último a ser ouvido foi Nílvio de Campos Severo, médico e irmão de Niele de Campos. Ele negou o recebimento de propina e disse não ter conhecimento sobre o número excessivo de liminares expedidas por sua irmã. “Não tenho nenhum vínculo com a parte jurídica da minha irmã”, concluiu.
Ida a Monte Claros
A sessão da CPI deliberou requerimentos referentes a ida de membros da Comissão para Montes Claros (MG) na próxima quinta-feira (18). O objetivo é ouvir delegados e acusados de envolvimento na máfia em Minas Gerais, descoberta na operação Desiderato, da Polícia Federal, que prendeu oito pessoas no dia 2 de junho.