Depoimentos revelam manipulação do Judiciário pela Máfia das Próteses e Órteses

20/05/2015 12h02

Médicos e desembargadores relataram como corruptores enganavam a justiça com pedidos de cirurgias

Na audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Máfia das Próteses e Óteses realizada na terça-feira (19) foram ouvidos desembargadores, que revelaram como o Poder Judiciário era usado para respaldar os esquemas de corrupção, e médicos, que falaram sobre indicações indevidas de cirurgias que colocavam em risco a vida de pacientes.

O desembargador João Barcelos de Souza Júnior relatou que em junho de 2014 a procuradora Fabrícia Moskaine informou sobre pedidos de liminares para cirurgias ortopédicas que deveriam ser analisados com atenção redobrada devido aos valores com os quais estavam sendo solicitados: cirurgias de R$ 30 mil chegavam a custar até R$ 200 mil.

Já o desembargador New Wiedmann contou que recebeu funcionários da empresa de planos de saúde GEAP, que estavam sendo processados por uma senhora de 80 anos devido a uma cirurgia recusada. Porém, constatou-se que tal cirurgia deveria custar R$ 190 mil e não R$ 600 mil como estava no pedido e o pior: acarretaria em sérios riscos de morte para a paciente. Negar a realização da operação salvou a vida da idosa. “Lesam planos de saúde, lesam particulares, lesam a saúde pública,” afirmou.

Outro depoente foi o médico Marcelo Paiva, que teve sequelas irreversíveis após uma cirurgia na coluna realizada pelo médico Edson Cerqueira Gouveia de Freitas, especialista em coluna e amigo da família, o que aumentou sua confiança na indicação dos procedimentos. Somente os materiais de órteses e próteses custariam R$ 208 mil, fora a comissão médica no valor de R$ 25 mil, mas o que chamou a atenção foram especificações que garantiam exclusividades às empresas Fusão e Mega Surgical, não podendo ser fornecido por nenhuma outra.Após os procedimentos médicos serem realizados, Paiva passou vários dias na UTI e perdeu o movimento das pernas, recuperando-os posteriormente, mas permanecendo com sequelas irreversíveis.

O médico Henrique Cruz fez denúncias sobre o período em que fez residência com o cirurgião Fernando Sanches. Certa vez, Sanches atribuiu a Cruz o papel principal em uma cirurgia. Percebendo que não havia ficha da paciente, Cruz soube que se tratava de um pedido judicial. A paciente em questão possuía o plano de saúde da Unimed, que não autorizou a cirurgia.

O depoente contou ainda ter descoberto que Sanches fazia anotações, pedidos de cirurgias e orçamentos em nome de Henrique Cruz, o que foi comprovado por meio de perícias que constataram que aquela não era sua letra. Cruz garante ter se afastado de tudo em julho de 2014. Segundo ele, desde então tem sofrido retaliações e teme por sua vida.


Deputado federal Geraldo Resende é presidente da CPI das Órteses e Próteses

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