Um índio descerá no coração da América do Sul

A equação que resulta em Postos de Saúde em péssimo estado de conservação nas aldeias de Dourados e um complexo esportivo, como a primeira Vila Olímpica Indígena do Brasil, jogado as traças, é simples: é descaso somado ao preconceito da sociedade e de seus representantes políticos. O pensamento que rege as ações para esta população tradicional é sectário, marginal e pouco interessado.

As intervenções nas aldeias Jaguapirú e Bororó, quando discutidas com suas lideranças e apoiadas pela comunidade indígena, geram expectativa ao atendimento de demandas caras aqueles homens e mulheres. A saúde, a educação, a segurança e o lazer são temáticas que gravitam entre as prioridades dos índios Kaiowá-guarani. Mas o desleixo com a implantação de equipamentos públicos naquelas terras demonstra que, as autoridades, não elencam como prioridades as mesmas ações quando voltadas ao tocante da questão indígena.

Quando o produto desta matemática chama a atenção da mídia, por alguns dias, a sociedade se compadece, as autoridades apresentam planos emergências, mas passadas algumas semanas, as políticas pontuais, frágeis de origem, voltam a nortear o que poderiam ser ações estruturantes, ora de natureza humanitária, ora para a preservação de riquezas culturais.

A estruturação de políticas voltadas as questões indígenas tem de ser discutidas com esta população e ter como princípio possibilitar que, naquele ambiente, as alternativas eclodam, sem a imposição cultural ou proteção ingênua de suas tradições. Porém, no caso específico das aldeias Jaguapirú e Bororó, algumas atitudes não podem esperar.

Distante de debates antropológicos e culturalistas, acredito que as influências negativas da população não indígena estão colocando em risco a dignidade das populações tradicionais. Além da precariedade do atendimento a saúde, o trafico e consumo de drogas dentro das aldeias estão roubando vidas e favorecendo a corrupção de menores, o vício e a criminalidade.

A segurança pública é pública em todo o lugar. A conseqüência dessas chagas sociais é a violência generalizada e o caos. Como resposta do poder público, uma grande gama de ações integradas deve ser implementada imediatamente. Pensar o índio e a sociedade como um todo é priorizar a sinergia desta complexidade e é o contrário de fazer escolhas e acabar cometendo injustiças.

Este espaço não é para falar de ações, mas sim para dialogar com você, o leitor. Mas no tocante a políticas para a comunidade indígena, todos ficaram sabendo, por meio de minha página na internet, de um projeto piloto interministerial, que abarca ações em segurança, esporte, lazer e saúde.

Temos assegurados um centro de tratamento para dependentes químicos, um posto de policiamento comunitário com veículo e câmeras de monitoramento, além de programa para fomentar o esporte para crianças carentes.

O Projeto Piloto Interministerial tem suas ações temáticas asseguradas pelos mandatários das Pastas responsáveis, mas ainda não foi implementado pela burocracia e pelo desinteresse. Todos dependem de projetos ou demonstração de interesse da administração municipal, decisões que não aconteceram.

Ciente da falta de atenção para a questão, apresentei o projeto e suas justificativas para a Presidência da República, neste momento, aguardo a resposta do gabinete da presidente, esperançoso de que consigamos iniciar o fim da matemática perversa do descaso.

Pois, para Caetano Veloso: “Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante. De uma estrela que virá numa velocidade estonteante.E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante”.

Geraldo Resende é médico e deputado federal PMDB/MS



Anterior
Anterior

MS conquista recursos, equipamentos e academias da Saúde

Próximo
Próximo

PMDB fecha balanço com mais de 5 mil filiados