O ‘não cidadão’ e as eleições

Inicialmente, quero reforçar o agradecimento ao eleitorado douradense e sul-mato-grossense pelos 79.299 votos limpos que recebi no último dia 3 de outubro. Estou muito feliz com a confiança externada nas urnas, a despeito de ter enfrentado verdadeiras “máquinas” eleitorais, com lastros políticos e econômicos dezenas de vezes superiores a uma campanha onde conquistei os votos da cidadania, ou seja, aqueles concedidos a partir do reconhecimento pelas ações coletivas que imprimimos para melhorar a vida de todos.

Algumas dessas ações já são sobejamente conhecidas pelos leitores. Na saúde, por exemplo, posso citar a reforma e construção de postos de saúde em vários municípios, bem como a reforma e ampliação de hospitais que são a única salvação de milhares de pessoas simples e humildes, usuárias do SUS. Na infraestrutura, dezenas de frentes de asfalto, drenagem e esgoto, essas últimas também pensando na questão sanitária, pois para cada Real investido em saneamento, se economiza quatro em gastos com a saúde. Na educação, conquistei a reforma de centenas de escolas e a reconstrução de outras, principalmente nas reservas indígenas. Isso sem falar na construção e reforma de praças de lazer e quadras esportivas, entre outras ações.

Foi com base nesse trabalho que fiz minha campanha. O resultado foi vitorioso, mas traz elementos para algumas reflexões. Entre elas, a de que ainda temos um longo caminho a percorrer no processo de conscientização de parcela expressiva da população brasileira, que infelizmente se tornou “descerebrada” também pela ação de maus políticos e de falsas lideranças.

Na caminhada em busca dos votos, deparei-me frequentemente com esse tipo de personagem: o “não cidadão”, o eleitor do “ajuda eu”, que se torna presa fácil dos forasteiros, aqueles que chegam nas cidades, compram consciências e depois desaparecem. Outra constatação é a de que são exatamente esses “não cidadãos” os que mais reclamam e bradam contra os políticos, porém fazendo de conta que não são os responsáveis pela escolha de seus representantes.

Com os “descerebrados eleitorais” não adianta gastar saliva, nem sola de sapato. Conversei com vários deles, alguns vendo o resultado de nosso trabalho na porta de suas casas, porém ostentando vistosos adesivos e fazendo campanha para candidatos que sequer conheciam. Para esses, de nada vale o passado e o presente de quem disputa uma eleição; não interessa saber se o postulante tem uma vida calcada na ética ou se pratica o respeito ao dinheiro do contribuinte. O que vale, pura e simplesmente é a vantagem pessoal e momentânea que porventura esteja usufruindo.

Para o “não cidadão” o que importa são os 20 litros de combustível ganhos para “trabalhar” ou para colocar o adesivo do candidato, ou mesmo com a “oncinha” ou o “tucunaré” para “trabalhar no dia”, ou seja, para fazer a boca de urna tão combatida pela justiça eleitoral. Depois das eleições, torna-se cômodo achincalhar todos os eleitos, classificando-os como “safados”, “corruptos”, “ladrões”, sem distinção.

Na verdade, esses “descerebrados”, quando confrontados com o discurso da ética, da moralidade, da consciência apresentam as justificativas mais estapafúrdias para justificar o injustificável: a venda de seus votos, de suas consciências e do seu futuro, a preço vil.

Lembro-me do dono de um pequeno mercado em uma de nossas cidades, o qual ostentava adesivo gigante de um candidato. Ousei perguntar-lhe se conhecia o concorrente e se sabia qual a profissão do mesmo. A resposta, óbvia, foi a de que não tinha conhecimento e que estava ganhando regiamente para fazer a propaganda do dito cujo, mesmo com o asfalto recém-construído a partir do trabalho parlamentar deste que vos escreve. A conclusão é de que o eleitor “acabrestado” é, além de tudo, egoísta. Não sabe pensar de forma coletiva e nem no dia de amanhã.

Aí fica a pergunta: o que fazer para mudar isso? Creio que aqueles desejam um país melhor devem continuar sua luta no sentido de conscientizar as pessoas. Trabalhar pela educação, principalmente, pois somente por meio dela as pessoas passarão a ser cidadãs, sabedoras de seus direitos e deveres e passarão a valorizar o bem comum.

Médico e deputado federal reeleito para o 3.º mandato



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