Dona Zilda do Brasil
Dona Zilda do Brasil
Geraldo Resende
Muito já se disse sobre o horror do terremoto que se abateu sobre o Haiti. Uma tragédia que comoveu o mundo e que, em certa medida, atingiu também a nós, brasileiros. Seja pela perda dos militares e civis que estavam lá em missão de paz e de acolhimento social seja pela perda de proporções inestimáveis de uma mulher que merece todo o nosso respeito e admiração – Dona Zilda Arns Neumann.
Médica e sanitarista, Dona Zilda incorporava à sua imagem a solidariedade sem limites. Uma mulher destemida que resolveu fazer da força singular o bem coletivo. Que mobilizou milhares de pessoas e mostrou ser possível vencer a miséria e a fome para dar dignidade aos mais humildes.
Criadora e maior incentivadora da Pastoral da Criança, ela ajudou a salvar milhares de crianças brasileiras com uma fórmula simples – boa alimentação e cuidados básicos de saúde. Contra o descrédito ela usava a esperança e as ações práticas. Sem malabarismos, transformou utopia em coisas reais. E ajudou o país a enfrentar uma das suas maiores chagas – a pobreza – com eficiência e carinho.
A determinação dela foi decisiva para nos ajudar a vencer uma importante etapa da luta contra a desnutrição infantil que estava matando centenas de indiozinhos nas aldeias de Dourados. Ela fez questão de vir ver de perto o que estava acontecendo aqui, em 2005, quando coordenei os trabalhos de uma comissão especial externa que tratou de levantar a origem daquele drama e os possíveis caminhos para resolvê-lo.
Graças à experiência dela foi possível montar uma estratégia de combate à fome entre as crianças indígenas que trouxe um pouco mais de tranqüilidade às aldeias e uma perspectiva mais digna de vida entre os nossos índios.
Mas a dura realidade é que qualquer coisa que se diga será menor do que a importância dela para o nosso país. Nos últimos dias do ano que terminou, eu estava em Brasília na minha luta permanente em busca de novos recursos para a nossa Dourados, quando encontrei com ela na porta do gabinete do ministro da Saúde.
Nos cumprimentamos e eu pude manifestar pessoalmente e mais uma vez a imensa admiração que tinha por ela e pelo seu trabalho. Era o dia 28 de dezembro. E ela, obstinada como sempre, ainda estava lá buscando obter a aprovação de projetos importantes para as crianças brasileiras de alguma comunidade mais pobre.
Essa é a imagem que vou guardar para sempre. O Brasil perdeu uma mulher de fibra. E a história ganhou um novo mártir. Dona Zilda do Brasil.
Médico e deputado federal PMDB-MS