Complexo de inferioridade e a representação de Dourados
Complexo de inferioridade e a representação de Dourados
Geraldo Resende
O complexo de inferioridade consiste em um conjunto de idéias que age sobre a conduta humana, provocando sentimentos gratuitos de culpa, excessiva carga emotiva relacionada a pensamentos de baixa estima, freqüente sensação de inadequação e constante frustração em decorrência da desvalorização da capacidade e habilidade pessoal.
Nos últimos tempos, tenho observado que parte de alguns setores importantes da nossa comunidade douradense vem apresentando fortes sintomas desse complexo. Só isso justifica o volume de reportagens abordando como grave e inaceitável a falta de representatividade de Dourados, no contexto político de Mato Grosso do Sul.
Digo isso para manifestar a minha veemente discordância dessa tese. Em minha opinião, Dourados vive hoje um momento muito especial em sua trajetória. Como diria o presidente Lula, nunca antes na história da nossa cidade, dispusemos de tamanho apoio das autoridades governamentais, tanto no plano estadual quanto no nacional.
Basta olhar em volta para perceber que a cidade tornou-se um verdadeiro canteiro de obras. Só os projetos que decorrem diretamente do meu trabalho em Brasília somam mais de R$ 200 milhões em investimentos. Isso desconsiderando o desempenho de outros parlamentares que têm reflexo direto para a nossa cidade, como Marçal Filho, no plano federal e Zé Teixeira, no plano estadual.
Quem lança mão do recurso de dizer que a cidade de Dourados sofre de desprestígio político por falta de representatividade, naturalmente se revela vítima de complexo de inferioridade. Na condição de médico, sou tentado a sugerir que estas pessoas busquem auxílio de especialista, assumam a sua parte no processo e deixem de responsabilizar os outros por aquilo que julgam não estar funcionando bem.
A estes, eu digo com todas as letras: Dourados vai muito bem, obrigado. E se a cidade não tem um número maior de representantes eleitos, seja na Assembléia Legislativa, seja no Congresso Nacional, isso não significa que o resultado do trabalho político dos seus representantes não seja relevante.
O que vejo de mais grave é que alguns dos que defendem a tese da inferioridade trabalham em setores da imprensa e terminam contaminando a opinião pública. Antes disso, deveriam se dar conta que, por não termos o voto distrital, estamos sujeitos a ver a nossa comunidade despejar votos em candidatos de fora. Isso, sim, é o cerne da questão.
Há poucos dias tivemos um exemplo claro dessa situação. Uma audiência pública para discutir a participação e a representatividade de Dourados nas próximas eleições trouxe para debater o assunto figuras políticas estranhas à nossa comunidade.
Sei que isso faz parte do jogo democrático, mas nos serve de alerta. Se quisermos ter bons representantes e forte representatividade, temos que voltar os olhos para as lideranças locais. O fracasso dessa audiência é um sinal animador: a comunidade de Dourados está atenta e não se deixa levar por iniciativas artificiais.
Outro recurso muito comum da legião de complexados é dizer que Três Lagoas está anos luz à frente de Dourados. Esquecem de dizer o principal: a grande vantagem de Três Lagoas em relação a Dourados é a localização geográfica que a deixa perto de São Paulo e a logística que esse fato proporciona.
Mas nem isso é motivo para baixa auto-estima. A notícia da implantação do Corredor Ferroviário Bioceânico Santos (SP) a Antofogasta (Chile) passando por Dourados, definido no PAC II, bem como a construção do trecho da Ferroeste entre Cascavel (PR) e Dourados, integrando nossa cidade com o porto de Paranaguá e com o Oceano Pacífico, vão permitir um salto nunca visto ao nosso setor produtivo, garantindo escoamento barato e seguro e ampliando o nosso mercado exportador.
Para quem se esquece, aqui vão outros argumentos inquestionáveis do bom momento que Dourados vive: a conquista da mais importante instituição de ensino da região, a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD); as obras de rede de água e esgoto do PAC I; a duplicação e revitalização da BR 163 e da BR-463 (Dourados-Ponta Porã); a duplicação da MS 156 (Dourados-Itaporã); a conclusão da pavimentação da Rodovia MS-379 (Dourados-Laguna Carapã); a implantação de asfalto em trechos de cerca de 40 bairros; a perspectiva do início da construção de cinco novas praças; e o lançamento da obra da Perimetral Norte, desejado há muitos anos pela nossa população.
Então, aos que apostam no complexo de inferioridade eu digo: xô, azar. Vamos olhar o horizonte com a cabeça erguida e planejando um futuro ainda melhor para a nossa cidade. E deixar argumentos como o de que Três Lagoas, por exemplo, experimenta um crescimento extraordinário devido ao fato de ter tido senador.
Com todo o respeito que tenho pelo falecido senador Ramez Tebet, acredito que o desenvolvimento de Três Lagoas passa ao largo desse aspecto. Isto se dá, principalmente pela posição estratégica daquele município, por dádiva divina (para quem crê) ou da natureza (para os céticos), que dotou esta cidade de condição geográfica extraordinária: fica às portas do maior centro consumidor do país, é banhada pelo Rio Paraná, e, portanto possui uma ótima logística rodoviária e hidroviária. Por outro lado, há muitos anos, pelo baixo custo de suas terras, empresários investiram no plantio do eucalipto que agora é utilizado na indústria de papel International Paper, já instalada e será na outra fábrica que será implantada.
Em um único aspecto sou obrigado a concordar com aqueles que dizem que Três Lagoas leva alguma vantagem em relação a Dourados: na escolha do seu administrador. Mas isso é decorrência da prática democrática que, queiramos ou não, será importante para o aprendizado que vai melhorar nossas escolhas futuras. Porque a melhor forma de diferenciar a representatividade política da nossa cidade é votar e eleger bons políticos. E o voto, no sistema democrático, ainda é a maior arma da população contra os aventureiros.
Médico e deputado federal PMDB-MS