A chaga do comodismo

Há duas semanas comentei sobre a satisfação do dever cumprido logo após participar da bela festa de inauguração da Vila Olímpica Indígena. A sensação do compromisso assumido e cumprido ainda é motivo de satisfação e alegria.

Acredito que o primeiro complexo de esporte e lazer voltado à comunidade indígena deve ser motivo de orgulho para todos nós, já que é um espaço que ampliará as oportunidades, permitindo aos jovens das aldeias Bororo e Jaguapiru uma mudança profunda em suas vidas.

A Vila Olímpica Indígena não foi pensada para ser um sofisticado complexo de competições, embora possa alcançar esse status, mas como um espaço que faltava e se torna essencial em uma comunidade que busca oportunidades e melhor qualidade de vida.

Não posso negar a satisfação geral por essa alternativa de esporte e lazer que busca a alegria, o divertimento, o prazer e a sociabilidade, a abertura de novos horizontes, a participação e a inclusão.

O que entristece, no entanto, é o imobilismo, a falta de vontade. Não há como se conformar com o comodismo, por isso acredito que a incredulidade de umas poucas pessoas não irá sufocar o alcance social de uma obra pronta e acabada, capaz de criar oportunidades e de mudar uma triste realidade, marcada pela violência, alcoolismo e consumo de drogas.

É preciso iniciativa. A Vila Olímpica Indígena é uma obra grandiosa, tem uma função social que pode espelhar projetos em outras partes do Brasil e do mundo. Daí a minha perplexidade diante de uma discussão celibatária sobre competências e responsabilidades sobre a administração do complexo.

Todos podem contribuir para que o local seja bem administrado. Basta força de vontade.

Estou propondo conjugação de forças, o envolvimento da sociedade por meio de suas entidades representativas para que a obra não seja relegada ao imobilismo. A comunidade indígena quer e precisa usufruir do espaço construído para ela.

O fato de que os índios são alvos de uma situação complexa, por causa dos níveis de violência, não pode ficar somente no plano da constatação.

Estou fazendo gestões junto ao Ministério para que seja destinada verba ao custeio de atividades e manutenção do espaço, mas lembro que há necessidade de se buscar ações articuladas entre os governos federal, estadual e do município. Só com vontade e conjugação de esforços vamos mudar a situação de risco em que vive a população indígena. Não há mais lugar para falação.

Muitos dos problemas vividos hoje nas aldeias da Reserva Indígena de Dourados têm solução. Assim como se combateu a desnutrição, que rendeu imagens só comparadas ao retrato da fome na Etiópia, a situação de violência, alcoolismo e consumo de drogas poderá ser enfrentada com atividades de lazer, esporte, cultura e convivência comunitária.

Indignar-se é próprio do ser humano. O que não se pode é confundir indignação com estado de letargia e imobilismo, a tentativa de incrustar na Vila Olímpica Indígena a pecha de ‘elefante branco’. É inaceitável, também, a desculpa de que a competência é do vizinho, a responsabilidade é do outro.

Volto a repetir que é preciso apostar no projeto da Vila Olímpica como instrumento que vai se somar a outras ações sociais integradas, desenvolvidas pelos governos federal, estadual e municipal para que a comunidade indígena passa, enfim, viver uma nova realidade e também contribuir e usufruir do desenvolvimento, que é direito de todos.

É médico e deputado federal pelo PMDB-MS



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