"Curso de Medicina na UEMS, sim... mas em Dourados!" - Leia artigo
31/05/2013 09h10
Temos assistido, nos últimos dias, algumas discussões acerca de uma possível intenção política de implantar um curso de Medicina da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), porém, com uma futura subsede em Campo Grande. Segundo matéria publicada no 25 de fevereiro, no jornal “O Progresso”, a proposta é do governador André Puccinelli, com o objetivo de aproveitar a estrutura do Hospital Regional para a prática de residência médica.
Acho salutar essa discussão, pois diz respeito aos interesses de uma população de mais de 700 mil pessoas. Aliás, a função de uma universidade estadual é a formação de profissionais que atendam às demandas dos munícipes daquele Estado. Entendo, portanto, que os debates estão apenas começando e deverão englobar os acadêmicos, professores, Prefeitura, Câmara de Vereadores, deputados estaduais, empresários, sindicalistas, etc.
O debate acerca da implantação de um curso de Medicina na UEMS, no entanto, deve ser precedido por outra discussão, que deve ser exaustiva e somente esgotada depois de apontadas as soluções: qual a situação de cada uma das 15 unidades da UEMS? Não haveria deficiências a serem sanadas a priori, e que demandariam vultosos recursos?
Essa seria a primeira etapa dos embates. Há reclamações recorrentes dos diversos campi, sobre dificuldades enfrentadas por professores e alunos. Vez por outra, há denúncias sobre sucateamento, até porque o orçamento atual, repassado pelo Estado, de pouco mais de 85 milhões para 2013, não atende às necessidades da instituição, já que deste valor, mais de 90% é destinado ao custeio. O montante ideal seria, de acordo com estudos de professores da própria Universidade, de pelo menos R$ 140 milhões.
Depois de equacionada a questão do orçamento e de sanadas as deficiências atuais, seria imprescindível uma segunda discussão: a necessidade de mais de um curso de Medicina no Estado, e se a UEMS teria os recursos adicionais para mantê-lo. Há que se discutir, também, o perfil dos profissionais que deverão sair desse curso.
Se há deficiências de médicos nas unidades de saúde da rede pública não apenas em Dourados, mas em todas as regiões do País, até mesmo proporcionando um ambiente para o nascedouro de alternativas questionáveis, como a possibilidade de se importar médicos estrangeiros e flexibilizar os requisitos para a atuação desses profissionais no Brasil, é preciso reconhecer que os médicos egressos da nossa Universidade Estadual precisariam ser vocacionados para o atendimento à Estratégia de Saúde da Família (ESF, antigo PSF), ou seja, para serem médicos do SUS – Sistema Único de Saúde. De nada adiantaria formar médicos e mais médicos que iriam, depois, retornar para seus Estados de origem, concentrando-se nos grandes centros, como ocorre atualmente.
Depois de superados esses estágios e se constatando a necessidade, viabilidade e oportunidade do curso, viria a terceira fase dos debates, que é a localização do curso. Tanto nos dois primeiros estágios quanto neste, claro, teriam que ser ouvidos os conselhos da Universidade, o COUNI (Conselho Universitário) e COEPE (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão).
Neste momento, alguns questionamentos teriam que ser respondidos, como por exemplo: se Campo Grande já tem dois cursos de Medicina, por que Dourados também não poderia? A justificativa de que na capital já existe um hospital estadual, que é o Hospital Regional e que este poderia ser o hospital-escola da UEMS, pode ser facilmente contraposta com a argumentação de que Dourados também precisa ter o seu hospital regional, o qual poderia cumprir essa função.Há informações de que o governo do Estado vai construir um hospital regional em Três Lagoas, o qual deverá ser entregue para a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) poder implantar um curso de Medicina naquela cidade. Mais uma vez, pergunta-se: e Dourados?
Recentemente, o deputado estadual George Takimoto divulgou que o governador André Puccinelli se comprometeu em atender à reivindicação que ele fez, de construir um Hospital Regional em Dourados. Além disso, outros parlamentares da bancada federal também anunciaram a destinação de uma emenda com essa finalidade. Portanto, esse hospital poderia muito bem ser o hospital-escola da UEMS.
De minha parte, caso haja vontade política de se construir um hospital regional em Dourados, também me comprometo a destinar emendas, com o mesmo objetivo. Ou de articular os recursos junto ao Ministério da Saúde, como fiz quando consegui R$ 12,9 milhões para a construção do Instituto da Mulher e da Criança (IMC), cujas obras ainda não começaram por conta da burocracia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
Portanto, conclamo todos ao debate, para que possamos ter mais uma vitória como outras batalhas históricas que a sociedade douradense empunhou, como foi, por exemplo, a implantação do curso de Agronomia, a implantação da UEMS e da própria UFGD. Isso seria necessário, até mesmo, para afastar de vez a suspeita de uma solerte tentativa de gradativamente, esvaziar a sede da UEMS em Dourados e, no futuro, transferi-la, por meio de mudanças na Constituição, definitivamente para Campo Grande.
- Médico e deputado federal (PMDB-MS)