Vila Olímpica vai ajudar a reduzir violência nas aldeias

MS possui a segunda maior população indígena do Brasil com 68.963 indivíduos em 75 aldeias em 29 municípios. São oito etnias - Guarani e Kaiowá, Terena, Kadwéu, Atikum, Ofaié, Kinikinaw e Guató

A construção da Vila Olímpica Indígena na reserva de Dourados dá nova perspectiva aos moradores das aldeias Jaguapiru e Bororo, segundo o deputado federal Geraldo Resende (PMDB-MS), notando que uma das expectativas é quanto à redução dos níveis de violência. Em relação a duas das causas principais dos níveis de violência – álcool e drogas – o deputado destaca o esforço para convencer o Ministério da Saúde a implantar na reserva um CAPS (Centro de Apoio Psicossocial) para atender dependentes químicos.

“As ações devem ser articuladas, nas áreas de saúde, social, segurança, assistência e educação”, lembra Geraldo, destacando que a entrega da escola Marçal de Souza (Guateka) minorou o problema da alfabetização e do ensino fundamental e elevou a auto-estima da população indígena que passa a acreditar, cada vez mais, em novas conquistas e sua integração na comunidade.

Na Escola Tengatuí Marangatú, na Aldeia Jaguapiru, o prefeito Murilo Zauith (DEM) abriu as comemorações ao Dia do Índio, que transcorre nesta terça-feira, 19 de abril, destacando as políticas públicas e iniciativas que buscam entender as comunidades indígenas, reconhecer suas necessidades de desenvolvimento coletivo e ascensão pessoal dos jovens sob um “novo olhar”, no aspecto da sua capacidade e vontade de vencer.

Para o deputado Geraldo Resende, o ideal seria que a obras da Vila Olímpica Indígena estivessem concluídas para ser inaugurada nesta data de reverência à população indígena, mas as chuvas e falta de mão de obra qualificada ao acabamento retardaram os serviços.

Problemas - diagnóstico

Relatório Técnico elaborado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul, da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, aponta que ainda em 2010 os aproximadamente 13 mil índios que vivem na reserva de Dourados, em pouco mais de 3,5 mil hectares, são alvos de uma situação complexa, por causa dos níveis de violência. “A busca de ações articuladas visa justamente mudar a situação de risco para um quadro de estabilidade e de avanços, que esperamos seja em um futuro não muito distante”.

O Distrito Sanitário Especial, que atua na atenção básica da saúde indígena desde o ano de 1999, é formado por 15 pólos base e 36 equipes multidisciplinares de saúde indígena, composta por enfermeiros, médicos, odontólogos, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, agentes indígenas de saúde, técnicos de higiene dental, auxiliares de consultório dentário (ACD) e agente indígena de saneamento (AISAN).

Mato Grosso do Sul possui a segunda maior população indígena do Brasil com 68.963 indivíduos, com suas particularidades e especificidades sócio-culturais, políticas e econômicas, dividida em oito etnias, sendo elas: Guarani e Kaiowá, Terena, Kadwéu, Atikum, Ofaié, Kinikinaw e Guató, que habitam 75 aldeias localizadas em 29 municípios.

Veja reportagem sobre a Vila Olímpica Indígena

São 45 aldeias que abrigam as etnias Guarani-Kaiowá, abrangendo 26 municípios e correspondendo a 43.746 indivíduos (64% da população), sendo estas etnias as que apresentam os maiores problemas de saúde mental.

Conforme o último relatório, divulgado em 1º de março deste ano, as aldeias enfrentam problemas de suicídios, homicídios, violências/agressões, consumo abusivo de álcool, uso de drogas e doença mental/transtornos mentais e comportamentais. As mortes por causas externas são significativas, correspondendo a uma média de 25% dos óbitos totais, com ênfase nas elevadas taxas de mortalidade por suicídio e homicídio. De 2000 a 2010, foram registrados 508 suicídios. Os maiores números são de 2003 (53), 2005 (50) e 2008 (60). No ano passado foram 41.

De acordo com o Distrito Sanitário Especial, 99% dos casos de suicídios ocorridos ocorreram em aldeias da região Sul, na etnia Guarani e Kaiowá.Em relação aos homicídios, os números são igualmente inquietantes. As mortes registradas por homicídios entre os indígenas são de um caráter extremamente agressivo e violento, sendo 93% ocorridas nas aldeias da região Sul, concentrando-se os casos nas etnias Guarani e Kaiowá. Desde 2001, ocorreram 278 casos.

O enfrentamento dos problemas relacionados ao consumo de bebida alcoólica por indígenas das aldeias do Estado vem sendo um dos maiores desafios para os profissionais das equipes de saúde indígena. “O consumo deixa de ser exclusivo dos adultos para atingir além destes, os jovens e crianças”, diz o relatório do Distrito Santário.

Constata-se também a existência de casos de usuários de drogas nas aldeias, com um aumento significativo nos últimos anos sobretudo de usuários de crack, de ambos os sexos e de diferentes faixas etárias, porém com destaque à população jovem.

CAPS

Geraldo Resende defende a ideia de aproveitar a inauguração da Vila Olímpica para lançar o projeto do CAPS indígena, simbolizando a conjugação de duas ações importantes para superar a situação de violência nas aldeias. Segundo o deputado, a Vila Olímpica vai dar oportunidade da prática de esportes e também será uma praça de integração, servindo de palco para grandes competições, além de oferecer espaços para prática de esporte e lazer na reserva, contribuindo para redução dos índices de violência e consumo de drogas. As ações se completariam com o CAPS, para tratar os dependentes químicos.

Segundo Geraldo, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) já sinalizou apoio à implantação do CAPS para atender pacientes com transtornos decorrentes do uso e dependência de drogas. Hoje são consumidas drogas ilícitas (maconha e crack) e lícitas (álcool).

Vila Olímpica

Para tornar possível a implantação da primeira Vila Olímpica Indígena, cujas obras começaram em 13 de maio de 2008, o deputado Geraldo Resende apresentou, no Orçamento Geral da União/2006, uma emenda individual de R$ 400 mil no Ministério dos Esportes e convenceu seu colega Fernando Gabeira (PV-RJ) a destinar uma outra emenda de R$ 300 mil para a mesma obra. Além disso, a Prefeitura investiu, como contrapartida, mais R$ 180 mil, totalizando R$ 800 mil. Em 2008, Geraldo apresentou outra emenda de R$ 750 mil, sendo que o Estado está investindo mais R$ 83.333,33.

A Vila Olímpica está sendo construída em uma área de 29 mil metros quadrados. Além da quadra de esportes de estrutura metálica e vestiário com área construída de 1.116 metros quadrados, o complexo contará com campo de futebol com vestiários, de 5.400 m2; pista de atletismo (2.735 m2); quadra de vôlei de areia (336 m2); e calçamento com 3.252 metros quadrados.

O projeto é único no Brasil e na opinião de Geraldo Resende, “surge como uma alternativa real no combate ao uso de drogas, à violência, ao alcoolismo e à prostituição, que muitas vezes são conseqüência do ócio, da falta de oportunidades, de opções de lazer e esporte”.


Ginásio é uma das obras do complexo da Vila Olímpica. (Foto: Edmir Conceição)
Vila Olímpica Indígena terá esse aspecto arquitetônico após conclusão das obras.

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