Depoimento de jornalista da Globo choca CPI da Máfia das Próteses
30/04/2015 10h22
O esquema de propinas e direcionamento de compra de próteses acontece desde a década de 1990. Foram feitas denúncias, houve punições, porém novas e antigas empresas de fachada voltaram a atuar
O repórter investigativo Giovani Grizotti da RBS, afiliada da Rede Globo, foi ouvido nesta quarta-feira (29) na CPI da Máfia das Próteses na Câmara dos Deputados. Na audiência, o jornalista afirmou que existe um cartel de venda de órteses e próteses envolvendo empresas, profissionais, gestores e até membros do judiciário.
O repórter produziu a matéria que foi ao ar no dia 04 de janeiro no Fantástico denunciando o esquema de pagamento de propinas para a comercialização de próteses. O profissional não teve a imagem revelada por trabalhar em matérias investigativas e por ter sofrido ameaças depois da exibição da reportagem.
Segundo o jornalista, materiais com prazos de validade vencidos eram implantados. “Os Stents [prótese cardíaca para desobstruir artérias] já estavam vencidos, os médicos ganhavam comissões por cada implante usado independente do paciente precisar. Usavam sistemas de consultorias para a venda desses Stents. Pior, a ANVISA não tem como rastrear”, disse.
Outra denúncia foi a diferença de preços de próteses por região do País. Essas negociações geralmente são feitas nos Congressos Médicos. O Repórter se passou por médico para conseguir as informações. Em um dos congressos da Sociedade Buco Maxilo Facial, o jornalista foi a Sociedade Paulista de Medicina e lá, como falso médico, recebeu propostas de “comissões” de até 25% sobre o preço do material. No depoimento foram citados casos de superfaturamento no Exército e o envolvimento de associações médicas em fraudes de licitações e direcionamentos.
Para o repórter, o número de cirurgias a serem realizadas é decidido antes de os pacientes procurarem o hospital, desta forma acontecem cirurgias ortopédicas para implante de próteses sem necessidade. “A sessão foi fechada apenas para os parlamentares para assegurar a segurança do jornalista. Todos nós ficamos chocados com as revelações”, afirmou o deputado Geraldo Resende (PMDB), presidente da CPI.
Além de superfaturamentos, aconteceram falsificações de assinatura para desvio de recursos no SUS. O sobrepreço chegava a 100% de materiais como parafusos e órteses. Foram denunciados também casos de indicação de quimioterapia desnecessária para pacientes terminais por serem tratamentos mais caros. Outra linha de investigação é a indicação, também desnecessárias, de implante de balões gástricos em pacientes com obesidade mórbida.