Um basta na hipocrisia
Um basta na hipocrisia
Geraldo Resende
Tenho divulgado, por meio de matérias na imprensa, nos informativos do mandato e no meu site, imagens de projetos de diversas obras que têm recursos garantidos há vários anos e ainda não saíram do papel, em Dourados. São propostas essenciais, não só para deixar a cidade mais bonita, mas para garantir mais saúde e conforto à população.
Mas, pelo menos por enquanto, elas não passam de belas fotografias. Por quê? É a pergunta que me faço todos os dias, e que fica no ar, sem resposta.
Tenho feito cobranças insistentes ao prefeito e a seus secretários. Entendo que não é certo ver a população passando dificuldades, deixando de ser atendida adequadamente nos postos e centros de saúde; ver nossos jovens e idosos sem espaços para lazer enquanto o dinheiro permanece parado no banco, à disposição da Prefeitura.
Não me canso de cobrar porque isso é parte das minhas obrigações, como parlamentar. Sem perder o bom humor, mas nem por isso achando que o assunto é brincadeira, já fui reclamar até ao bispo. Pedi ajuda divina, pra ver se com alguma oração e com as bênçãos celestiais algo pudesse mudar. Mas nada aconteceu.
Resta tentar entender por que capricho a administração resolveu privar a população de tantos benefícios. Procuro e não encontro sentido. Alguns interlocutores dizem que é incompetência das secretarias responsáveis e relatam até mesmo a falta de firmeza do prefeito para que os funcionários cumpram suas ordens. Tenho dificuldades para imaginar e aceitar isso.
Como pode ser incompetente uma equipe formada e liderada por quem ganhou a eleição exatamente assumindo o compromisso de realizar os desejos dos mais humildes e de atender em primeiro lugar as suas necessidades?
Como compreender que o governo que usou o voto e a confiança popular para assegurar que faria diferente, está se distanciando cada vez mais de suas promessas de campanha e deixando cada vez mais abandonada a sua gente?
Para ser sincero, o governo está fazendo diferente, sim. Mas diferente para pior. A cidade vive sob a sombra de um escândalo de corrupção que pode, a qualquer momento, “apear” o prefeito do cargo. É lamentável. É entristecedor.
Me recuso a imaginar que por trás dessa punição imposta ao povo de Dourados esteja uma vingança política. Será que alguém, ainda mais investido de autoridade pública, teria coragem de boicotar tantos projetos importantes só porque na origem da obtenção dos recursos está o meu trabalho, a minha marca?
Como justificar para a população a paralisia de obras como a construção da Clínica da Mulher; a revitalização da Praça Antônio João; a reforma do Hospital da Vida; a implantação da praça do Parque Ambiental do Córrego Rego D’água; a construção de seis novos postos de saúde e a construção da quadra de esportes do Centro de Apoio às Pessoas com Deficiência Dorcelina Folador?
Sinceramente, eu creio que fazer política é algo mais sério do que isso. No estágio da vida em que me encontro, não há mais espaço para mesquinhez. Nem para hipocrisia. Que as diferenças de pensamento e da forma de agir mantenham em lados opostos eu e o prefeito, não há como negar.
Nem por isso eu vou deixar de cobrar-lhe um postura mais adulta, mais responsável. Porque eu, mesmo reconhecendo essas diferenças políticas, não deixo de fazer a minha parte, nunca me neguei a ajudar a cidade a se desenvolver. Nunca permiti que uma disputa pessoal pusesse pôr em risco o bem estar da população de Dourados.
Não obtendo sucesso em minhas investidas anteriores, até ao Ministério Público já recorri. Espero que a força da lei obrigue o prefeito a sair do imobilismo e o leve a fazer o que é preciso – trabalhar pelo bem de Dourados.
Se ainda assim não houver avanço, o prefeito poderá sofrer uma ação por improbidade administrativa. Afinal de contas, são recursos públicos arduamente conquistados em Brasília que estão deixando de ser utilizados. Pior: a cidade corre o risco de perdê-los.
Na verdade, me surpreende ver que, se por um lado, a folha de pagamento da Prefeitura incha com a contratação de pessoas para ocupar cargos comissionados, por outro parece faltar técnicos com reconhecida capacidade para fazer andar os processos e vencer a lerdeza da burocracia, desentravando projetos que não saem do papel.
Uma coisa eu garanto: minha obrigação de lutar por Dourados é maior do que tudo. E eu não vou descansar enquanto essa onda de tristeza e desrespeito não der lugar a um novo e verdadeiro tempo de desenvolvimento para Dourados.
Médico e deputado federal PMDB-MS