Adeus Theodorico

Adeus Theodorico

Geraldo Resende

Comentar sobre o falecimento do jornalista Theodorico Luiz Viegas não era o assunto que gostaria de tratar nesta coluna semanal. Mas não tive escolha. A vida cobra seu tributo e temos que nos curvar à realidade. Assim, faleceu de maneira serena, como foi em vida, o querido amigo, que foi, também, um dos meus primeiros patrões, quando ainda menino, fui trabalhar na “Folha de Dourados”, no início da década de 70.

Theodorico se mostrou, desde o primeiro momento em que lhe conheci, uma pessoa extremamente humana, preocupada em construir um mundo melhor. Foi na “Folha de Dourados”, onde conheci muitos dos amigos que cultivo até hoje, que tive a oportunidade de ter uma nova visão de mundo, e que me incutiu, ainda mais, o gosto pela leitura e pela busca do conhecimento que faz as pessoas se tornarem idealistas.

Analisando a vida de Theodorico, podemos ver que ele foi uma pessoa que não se contentou em ser apenas mais um a passar por esta Terra. Pelo contrário, ele foi ao mesmo tempo um agente e historiador das transformações de sua época. A “Folha de Dourados” escreveu a história de nossa região e de nosso Estado, mas também atuou na vanguarda dos acontecimentos.

A “Folha de Dourados”, que foi fundada nos anos de chumbo da ditadura militar foi uma escola para muitos dos jornalistas que, forjados na labuta diária, saciavam o apetite de milhares de pessoas que gostam de estar em dia com os acontecimentos. De forma inteligente mas não subserviente, Theodorico driblava, às vezes, a censura para colocar seu jornal diário em circulação.

Lembro-me até hoje quando, recém chegado a Dourados, fui lhe pedir emprego na “Folha de Dourados”. Foi quando conheci o amigo Severiano Palhano (que hoje é proprietário de uma gráfica em Nova Alvorada do Sul), que me pediu que voltasse no dia seguinte, após conversa que teria com o patrão. Ao voltar, me foi oferecida a oportunidade de vender os jornais, condição que acatei prontamente, a qual me possibilitou freqüentar diversos consultórios, onde conquistei muitos clientes e comecei a vislumbrar o sonho de ser médico.

Ali, na “Folha”, também comecei a aprender as lides de uma profissão que me orgulha: a de gráfico. Foi, portanto, a figura afável de Theodorico quem me oportunizou valores que cultivo até hoje: a luta de vanguarda, a revolta contra as injustiças, a educação como condição para o crescimento...

Hoje, ao rememorar algumas dessas passagens de minha vida, vejo que, aos 78 anos, Theodorico cultivou um caráter de hombridade, decência e ética, que são uma unanimidade em tantos quantos a ele se referem. Estamos tristes ao falar de seu falecimento, mas ao mesmo tempo, confortados por podermos lembrar coisas boas sobre sua vida.

Por isso resta-me dizer um adeus ao Theodorico: Vá em paz e muito obrigado por tudo o que você representou para todos aqueles que tiveram a oportunidade de conviver com sua afável pessoa, exemplo de vida, humanismo e dignidade.

Médico e deputado federal PMDB-MS


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