Reflexões sobre o 8 de março
Há 101 anos dedicamos o dia 8 de março para a reflexão sobre as conquistas e os desafios que as mulheres enfrentam na sociedade, mas o dia 8 de março de 2011 ficará marcado na história do país por registrar avanços importantes. Pela primeira vez, a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados é composta por uma mulher, a deputada Rose de Freitas, do meu partido, o PMDB do Espírito Santo. Rose foi eleita a primeira vice-presidente, no dia primeiro de fevereiro deste ano e substituirá o presidente Marco Maia, quando ausente.
Outra demonstração de amadurecimento político brasileiro nesse aspecto, foi a eleição e em 2011, a posse da primeira mulher presidente do Brasil. Dilma Russeff, que foi a primeira mulher secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, a primeira Ministra de Minas e Energia do país, a primeira Ministra Chefe da Casa Civil, hoje é a esperança da população brasileira de continuidade dos avanços sociais e da garantia da estabilidade econômica.
Por ser médico, para mim, a saúde da mulher sempre foi prioridade. Sou ginecologista de formação e identifiquei as peculiaridades deste atendimento e na vida pública, transportei esta particular preocupação para ações efetivas. Quando fui secretário estadual de Saúde, no período de outubro de 2000 a abril de 2002, pude, junto com minha equipe, fazer uma verdadeira revolução na saúde do Estado de Mato Grosso do Sul, notadamente no que se refere às mulheres. A primeira providência, por exemplo, foi materializar a implantação do Hospital da Mulher em Dourados, sonho que vinha acalentando quase 10 anos, ainda quando vereador. Depois, exatamente no dia 8 de março de 2002, inauguramos o Centro de Referência Saúde Mulher, em Dourados – hoje, infelizmente, desativado – idealizado para oferecer às mulheres de Dourados e região, atendimento integral na área de saúde, com ambulatórios de planejamento familiar, exames de alta complexidade, prevenção ao câncer de mama e ginecológico, gravidez de alto risco, entre outros.
Antes de deixar a Secretaria, deixei encaminhados processos para implantação de unidades semelhantes em Campo Grande, Três Lagoas, Nova Andradina, Naviraí, Ponta Porã, Coxim, Corumbá, Guia Lopes da Laguna, Aquidauana e Paranaíba, das quais apenas as de Campo Grande e de Nova Andradina se tornaram realidade à época.
Já na função de deputado federal, viabilizei, em parceria com a Prefeitura, a construção da Clínica da Mulher em Três Lagoas; e construção e compra de equipamentos para a Clínica da Mulher em Dourados, cujos recursos garanti em dezembro de 2007 e que ainda não se tornou realidade por conta da burocracia e má-vontade dos antigos gestores da saúde naquela cidade.
A mais recente conquista como deputado federal, que significará uma verdadeira revolução na área da saúde da mulher da Grande Dourados - uma região composta por quase 40 municípios e habitada por cerca de 800 mil pessoas em Mato Grosso do Sul - é a implantação do Instituto da Mulher e da Criança, ligado à UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), um investimento de quase R$ 19 milhões, dos quais R$ 12,9 viabilizados por meio do mandato deste parlamentar, que vai abarcar a assistência à mulher e à criança e será um centro de referência acadêmico para a saúde feminina.Todos esses recursos somados giram em torno de R$ 15 milhões para proteger a vida daquelas que geram a vida, e se tornam a síntese do movimento cíclico do que há de mais belo e natural: a continuidade e a renovação de nossos sonhos.
Mas ainda há muito que fazer, principalmente no campo político. As mulheres estão muito distantes da merecida representatividade por ser a maioria da população, inegavelmente as lideranças femininas vem avançando e conquistando espaços importantes, a política de cotas para candidatas mulheres e a politização da sociedade possibilitaram este crescimento, mas existem várias trincheiras a serem derrubadas.
Além da seara política, nas organizações industriais, empresariais e sindicais as mulheres estão se projetando como líderes de sucesso. No Rio de Janeiro, o Clube de Regatas do Flamengo é presidido por uma mulher, Patrícia Amorim, situação inimaginável há alguns anos.
Porém, apesar desses avanços, existem muitas barreiras a serem transpassadas. De um lado, mulheres em posições de comando, dominando espaços que eram reservados só para os homens; determinando novas posturas, novos comportamentos; estabelecendo, não a inversão da ordem mundial, mas uma trilha inovadora para a convivência humana. Estas mulheres são a prova de que um longo caminho de lutas e vitórias já foi percorrido. De outro lado, mulheres que ainda são vítimas de mutilações, violências de toda sorte que molestam seu corpo e sua alma. Vítimas da “menos valia”. O grito abafado destas mulheres ecoa em nossos ouvidos para dizer ao mundo que muito ainda há por fazer.
No Brasil, apenas no primeiro semestre do ano passado, foram registradas mais de 62.300 ocorrências referentes a situações danosas contra mulheres. São relatos de violência moral, patrimonial, física e sexual. A instituição da Lei Maria da Penha, em 2006, foi um poderoso instrumento para que as mulheres denunciassem as relações de gênero que fossem desfavoráveis. Mas ainda sim, os números desses acontecimentos nos preocupam sobremaneira.Outro elemento que temos de estar atentos e vigilantes é a discriminação e o preconceito estampados nos contracheques das mulheres. Os levantamentos demonstram que mulheres recebem muito menos pelos mesmos serviços desempenhados pelos homens: é o reflexo de uma desigualdade histórica que ainda não superamos.
Esses elementos demonstram que precisamos engrossar as fileiras da luta em oposição a discriminação contra nossas companheiras, mães, irmãs e avós, para garantir um mundo mais democrático para as nossas filhas.
Geraldo Resende - médico e deputado federal (PMDB/MS)